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POPALITY™

Toda a nossa realidade se tornou experimental. Na ausência de destino chegámos ao ponto em que somos deixados ao acaso da experimentação ilimitada sobre nós mesmos. O Reality-Showdepende da ilusão mediática da realidade ao vivo, e tornou-se em conceito universal, versão condensada do jardim zoológico humano, do gueto claustrofóbico. Reclusão voluntária como laboratório de convivialidade relacional sintética e sociabilidade modificada pela tecnologia. Neste momento em que tudo está à vista (como no Big Brother, Facebook, etc.), damos conta de que já não há nada para ver. O espelho do grau zero, da anestesia, comprova o desaparecimento do outro e confere a certeza de que os humanos não são seres fundamentalmente sociais. Esta situação torna-se equivalente ao readymade —transferência do quotidiano, da vida aborrecida e diária regida pelos modelos dominantes, para o contexto espectacular. Banalidade sintética manufacturada em circuito fechado e sistema de controlo.
 O microcosmos artificial do reality-show transfigura-se em parque temático, que nos oferece a ilusão de mundo real, mundo exterior, quando na realidade já nada de exterior ao Big Brotherexiste: JÁ ESTAMOS TODOS LÁ DENTRO. A realidade virtual ou televisiva não passa de mero detalhe fractal da realidade global. Na nossa existência quotidiana somos todos cobaias de situações de realidade experimental para animais. Deste facto nasce o fascínio pela imersão e interacção espontânea. Será isso uma forma de voyeurismo? Não, o sexo está em toda a parte mas não é isso que as pessoas querem. Elas desejam profundamente o espectáculo da banalidade, a verdadeira obscenidade: nulidade, insignificância e mansidão. O extremo oposto do teatro da crueldade. Mas pode ser que esta docilidade seja a forma mais extrema de crueldade, pelo menos virtualmente. Neste tempo em que a televisão e os jornais vão sendo desviados dos eventos insuportáveis que ocorrem no Mundo, descobrem na banalidade existencial o mais mortífero dos eventos, a notícia mais violenta, a verdadeira cena do crime perfeito. As pessoas estão fascinadas, magnetizadas e aterrorizadas pela indiferença do nada-para–dizer, nada-para-fazer, pela indiferença da sua própria existência. Ao visualizarmos o crime perfeito da banalidade, como nova face do destino, este torna-se no verdadeiro desporto olímpico, ou, pelo menos, em desporto radical. 
Tudo isso se reforça com a situação em que o público é convidado a julgar, dentro de todas os parâmetros do activismo fraudulento. Este é o jogo épico em que o espectador se converte em Big-Brother.

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